30 de setembro de 2004

Camões. Sem concordata e sem concórdia à vista.

Dos leitores.
Mas quem é anda a lesar, por destruição, adulteração ou extravio de documentos ou por viciação de dados para tratamento informático os interesses patrimoniais do Instituto Camões?

Arquive-se.
De MCHB

«E as ameaças continuam no Instituto Camões...

«Tirando as Notas Verbais, ninguém parece querer saber o que vai por lá sucedendo. SEXA o Ministro da tutela continua de olhos e ouvidos fechados. E, não há nada pior como aquele que não quer ver nem ouvir o que se está a passar à sua volta...

Mas, as notícias são tantas ou tão poucas que não consigo "pousar a caneta".

Pelos corredores dos vários andares da Rodrigues Sampaio e do Palacete Seixas (segundo tudo parece ex-Casa da Lusofonia) está tudo em estado de choque e de pasmo! Foi entregue, esta semana, uma ordem de serviço, sem número, da Presidente Dr.ª Simonetta Luz Afonso dirigida a todos....mesmo todos! "Todos os dirigentes, funcionários e colaboradores". Todos no mesmo saco e tratados da mesmo forma e exigindo-se as mesmas obrigações. Lindo...melhor não era possível.

Afinal os "ditos colaboradores", em regime de tarefa e avença, que na opinião da "distinta" presidente não podem continuar no ICA, são metidos na mesma ordem de serviço dos dirigentes e dos funcionários.

O que consta na "ordem de serviço"? Segundo conseguimos apurar uma ameaça com processo disciplinar, demissão e afins a quem " (...) lesar, por destruição, adulteração ou extravio de documentos ou por viciação de dados para tratamento informático os interesses patrimoniais...". É assim citado o Art.º 26º, n.º 4 do Estatuto Disciplinar aprovado pelo Decreto-Lei n.º 24/84 de 16 de Janeiro...

Mal vão os dirigentes de uma Instituição que têm que ameaçar os seus "Dirigentes, Funcionários e Colaboradores" com medidas destas... É este ambiente que se quer numa Instituição que é a imagem de Portugal no Mundo? Pelo vistos quem detém a sua tutela e quem governa presentemente considera que sim!!! Camões não tarda nada a perder de vergonha o único olho para deixar de ver de vez o que se passa na "sua Casa".

Documento. António Monteiro fala da Concordata (revista)

Mais um documento, hoje em Notas Formais: a intervenção do MNECP António
Monteiro
, no Parlamento, sobre a Concordata (revista). Texto longo, mas vai na
íntegra em Diplomacia a oração deve ser completa. Há nuances.

Arquive-se.


Senhor Presidente,
Senhores Deputados,

Permitam-me uma saudação especial a todos os Senhores Deputados, na ocasião em que me dirijo pela primeira vez a esta ilustre Assembleia na qualidade de Ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas. Quero aqui afirmar a minha inteira e total disponibilidade, e do Ministério que dirijo, para colaborar com a Assembleia da República sempre que esta assim o entenda. Senhor Presidente,

Senhores Deputados,

Sem prejuízo da laicidade do Estado Português, consagrada no princípio constitucional da separação do Estado e das Igrejas e comunidades religiosas, é inquestionável o papel singular exercido pela Igreja Católica ao longo da história do nosso país. Este caminho conjunto remonta à Bula Manifestis Probatum, pela qual o Papa Alexandre III reconheceu em 1179 a independência de Portugal e o título de Rei a D. Afonso Henriques.

Este relacionamento, nem sempre fácil em virtude de vicissitudes históricas e da relativa indefinição dos poderes temporais da Igreja Católica, foi pacificado pela Concordata de 7 de Maio de 1940, negociada no Pontificado de Pio XII, durante o anterior regime português. Nas últimas décadas, a desactualização daquele texto de direito internacional tornou-se evidente, face às mudanças entretanto ocorridas na sociedade portuguesa e na própria Igreja Católica, de que se destacam as geradas pelo 25 de Abril de 1974 e pelo Concílio Vaticano II. Até à data, essas alterações apenas tinham conduzido a uma modificação, datada de 1975, relativa à admissibilidade do divórcio no casamento católico.

A preparação da Lei da Liberdade Religiosa (aprovada em 2001) acentuou o desajustamento da Concordata de 1940, com algumas disposições tornadas inconstitucionais, de constitucionalidade duvidosa, caducas ou simplesmente anacrónicas. Não surpreende, por isso, a decisão desta Assembleia a pronunciar-se em 2000 pela necessidade de realizar o processo de revisão da Concordata de 1940, nos termos decorrentes da Constituição e do direito internacional; decisão essa que correspondeu igualmente ao apelo no mesmo sentido e quase simultâneo expresso pela Conferência Episcopal Portuguesa.

O estudo aprofundado sobre as alterações a introduzir no texto então em vigor levou, porém, a concluir pela necessidade de celebração de uma nova Concordata. Iniciou-se, assim, o processo que agora se concluirá, pela aprovação na ordem jurídica interna do texto assinado pelo Senhor Primeiro-Ministro Durão Barroso e pelo Cardeal Sodano em 18 de Maio do corrente ano.
A negociação da nova Concordata, tal como a que conduziu à Concordata de 1940, foi morosa, conforme é típico de um processo com implicações tão vastas e importantes num relacionamento multissecular, que se deseja profícuo e pacífico. Foi também uma negociação pautada por uma grande vontade de cooperação construtiva e por um espírito amigável e de respeito mútuo entre o Estado Português e a Igreja Católica.

Para tal, contribuiu de forma absolutamente determinante o inexcedível trabalho desenvolvido pelo Professor Doutor António de Sousa Franco, na qualidade de jurista da Comissão Negociadora da Santa Sé, que sempre qualificou como muito gratificante esta experiência. As exemplares capacidades intelectuais, a inquestionável rectidão moral e o elevado sentido de Estado do Senhor Deputado Sousa Franco merecem a sentida palavra de homenagem que, em nome do Governo Português, presto nesta sede em sua memória.

Todos os membros de ambas as comissões negociadoras assumiram sempre o princípio da cooperação como basilar na condução deste processo; compreendendo que, sem prejuízo das diferenças de método ou de teleologia, a Igreja e o Estado visam servir o Homem. Entenderam igualmente que a Concordata para o século XXI deveria criar quadros de cooperação institucional que permitissem manter os princípios da separação, da laicidade e do pluralismo. Deveria ainda consagrar o princípio constitucional da Liberdade Religiosa no que se refere à Igreja Católica e às suas instituições.

O documento que o Governo vem hoje apresentar a esta ilustre Assembleia reflecte precisamente esse conteúdo, conforme tinha sido, desde logo, determinado no mandato do XIV Governo Constitucional. Uma palavra de apreço merecem todos os intervenientes nesta negociação, que agiram sob orientação dos meus antecessores: Ministros Jaime Gama, António Martins da Cruz, e Teresa Gouveia. Gostaria, particularmente, de saudar o trabalho desenvolvido pelo Embaixador Pedro Ribeiro de Menezes que, enquanto Embaixador de Portugal junto do Vaticano, acompanhou todo este processo. Os negociadores portugueses empenharam-se na preservação de todos os pontos considerados essenciais, sobretudo de uma perspectiva constitucional, que se encontram consagrados neste instrumento jurídico internacional que passo agora a expor mais detalhadamente.

O novo texto não se afasta muito do anterior em termos de estrutura, desde logo porque as matérias abrangidas correspondem, no essencial, às mesmas que tradicionalmente são objecto das relações entre qualquer Estado e a Igreja Católica. Já em sede de nomenclatura e de técnica legislativa, existiu a preocupação de modernizar o texto e de o adequar aos grandes princípios constitucionais vigentes actualmente em Portugal, sobretudo o da laicidade do Estado e o da igualdade das religiões e dos cultos. Muitas das alterações pretendem igualmente melhorar a articulação do direito estatal com o direito canónico.

Assim, surgem como inovações mais evidentes na Concordata de 2004:

  • A instituição de um regime fiscal não discriminatório em relação a outras confissões religiosas, incluindo a inexistência de isenções em sede de IRS: este é um dos exemplos mais evidentes de que a Concordata não cria nenhum privilégio, nenhuma excepção, nenhum tratamento de favor em relação ao regime constante da Lei de Liberdade Religiosa para todas as religiões e cultos;
  • A subordinação do ensino da moral e da religião católicas ao sistema educativo português, se bem que com a participação da Igreja: estas disciplinas integram-se no sistema escolar e são livres, resultando da opção quer dos estudantes, quer das suas famílias;
  • A possibilidade de as escolas superiores católicas poderem conferir graus, sem discriminação em relação às suas congéneres e incluindo a Universidade Católica, mas nos termos do direito nacional;
  • A não obrigatoriedade da manutenção de assistência religiosa nas Forças Armadas integrada na carreira militar;
  • A eliminação da intervenção do Estado na nomeação dos Bispos;
  • O reconhecimento da personalidade jurídica interna da Conferência Episcopal Portuguesa;
  • A previsão de um mecanismo de cooperação entre o Estado e a Santa Sé no âmbito internacional, com realce para o espaço dos Países de Língua Oficial Portuguesa, sem referências ao Acordo Missionário, cuja caducidade se pressupõe;
  • A previsão de duas Comissões Paritárias, enquanto órgãos de concertação permanente, encarregadas de zelar pela correcta aplicação da nova Concordata: uma geral para proceder à sua interpretação, dirimindo as dúvidas que venham a surgir da respectiva aplicação; e outra especificamente para as questões do património, com vista a consistir num fórum de cooperação relativa aos bens da Igreja que integram o Património Cultural Português;
  • A necessidade de as pessoas jurídicas canónicas se inscreverem num registo próprio do Estado, caso desejem intervir no comércio jurídico civil, e a equiparação da capacidade jurídica civil dessas pessoas à de outras com fins análogos;

  • A produção de efeitos civis das sentenças eclesiásticas da anulação do casamento apenas após a confirmação e revisão de sentença estrangeira nos tribunais portugueses e de acordo com as regras processuais nacionais.

    O texto que tenho a honra de agora submeter à apreciação e aprovação de Vossas Excelências, Senhores Deputados, apresenta a solidez e o consenso necessários à longevidade típica da sua natureza e, traduzindo o pluralismo próprio da democracia portuguesa, faculta aos cidadãos que se revêem na religião católica a liberdade a que têm direito. Fornece, também, à Igreja Católica a base suficiente e necessária à sua acção e ao seu papel na sociedade portuguesa contemporânea.

    (...)

    Intervenção final, após perguntas e respostas:

    Sem quebrar com a sua tradição histórico-cultural, o Estado Português enceta agora uma nova fase de relacionamento com a Igreja Católica. A palavra chave para esta nova etapa é «cooperação».
  • A «Concordata da Democracia», reiterando para a Igreja Católica os princípios constantes da Lei de Liberdade Religiosa, representa um marco histórico, de relevante significado para os cidadãos portugueses de formação católica. Sem prejuízo da igualdade jurídico-constitucional das religiões e cultos praticados em Portugal, mantém-se uma tradição apostólica que teve uma influência determinante na formação da Nação Portuguesa, bem como no quadro de valores actualmente predominante na sua sociedade.

    Convicto da utilidade do debate aqui havido, apelo agora, Senhores Deputados, à aprovação da proposta de resolução apresentada pelo Governo que, conforme tive oportunidade de referir, traduz inequivocamente o pluralismo e a laicidade do Estado Português, observando de forma séria e irrefutável os princípios jurídico-constitucionais do Estado de Direito.

    Documento. António Monteiro: os EUA, a Ordem Internacional e Portugal.

    Intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas,
    Embaixador António Monteiro, na Conferência do Instituto Português de Relações
    Internacionais e da Fundação Luso-Americana, hoje.

    Arquive-se.
    “Os Estados Unidos e a Ordem Internacional”

    I – O Impacto do 11 de Setembro

    É um lugar comum, mas foi isso mesmo que aconteceu – o dia 11 de Setembro mudou o mundo. Há momentos que marcam a História e aquela manhã foi um deles. Todos nós nos lembramos onde é que estávamos naquele dia.

    Podemos até não nos lembrar do que fizemos imediatamente antes ou a seguir, mas todos temos ainda na memória aquelas imagens de destruição e o choque que então sentimos. Para quem, como eu, tem laços especiais de afinidade a Nova Iorque, 11 de Setembro foi um dia muito, muito triste.

    Washington apareceu então como que humilhada, com o Pentágono a exibir a ferida aberta pela parte que lhe tocou da agressão. Ninguém previra a tragédia. Mas permanece também na nossa memória a resposta heróica da cidade e de toda a nação norte-americana à traição do terrorismo e a solidariedade internacional que se afirmou de imediato.

    Com estes atentados desapareceu o sentimento americano de invulnerabilidade, alimentado desde a guerra da independência. O “dia infame” do ataque a Pearl Harbour era a única referência comparável para o povo norte-americano. A mesma inspiração patriótica moldou a reacção em 2001, e nunca tive dúvidas de que o impacto psicológico do 11 de Setembro na população dos Estados Unidos teria consequências duradouras.

    Os atentados mudaram também a percepção do próprio terrorismo, com a ficção a tornar-se realidade. Globalmente ninguém estava preparado para o grau de destruição atingido e para o recurso aos meios utilizados.

    Tomou-se consciência da nova dimensão do terror que ameaça as nossas sociedades e que Kofi Annan definiu como “o inimigo comum”. Já não eram apenas os “Estados-párias” e a proliferação nuclear a figurar no rol de ameaças transcontinentais. Outros actores entraram em cena

    Estas duas mudanças explicam uma terceira: o fim da tentação isolacionista em Washington. Identificada a ameaça comum ao mundo civilizado, coube aos próprios Estados Unidos, superpotência directamente atingida, definir e comandar a reacção.

    O Presidente Bush, então no início do mandato, declarou guerra sem tréguas ao terrorismo, apelou a uma coligação internacional tão vasta quanto possível e o mundo civilizado ofereceu-lhe todo o apoio - a Aliança Atlântica, por exemplo, invocou pela primeira vez o artigo 5º do Tratado.

    A inclusão de países árabes nesta coligação foi especialmente importante para afastar o espectro do “choque de civilizações”, categoricamente rejeitado pela Administração norte-americana. Também regiões até então relativamente marginalizadas, como a Ásia Central, ganharam uma nova relevância estratégica.

    Porque as vitória militares são necessárias mas não suficientes, paralelamente à campanha militar contra o terrorismo, proliferaram iniciativas, de âmbito bilateral e multilateral, instrumentais neste combate, como a criação de instrumentos jurídicos para eliminar as fontes de financiamento dos grupos terroristas, a celebração de acordos de cooperação judicial e o desenvolvimento de uma maior cooperação policial internacional.

    Realço a mudança na questão financeira. Da minha experiência nas Nações Unidas, lembro-me de discussões frequentes e de repetidas afirmações quanto à impossibilidade de “perseguir” as fontes de financiamento de actividades ilícitas. Tratar-se-ia de uma tarefa perigosa até, que poria em risco o sistema económico internacional e as regras do mercado tão caras aos países desenvolvidos.

    Fez-se mais nas duas semanas seguintes aos atentados do que nos anos precedentes. Juntaram-se, finalmente, a vontade política e a concertação internacional necessárias para combater os financiamentos de actividades criminosas ou ilegais, incluindo, em primeiro lugar, o terrorismo.

    Neste combate houve logo vozes que chamaram a atenção para dois aspectos: o primeiro respeitante à necessidade de salvaguardar os direitos e as liberdades dos cidadãos. Como disse Kofi Annan, “se tivermos de errar, devemos fazê-lo a favor da liberdade”, respondendo à questão de saber qual o grau de liberdades e direitos que poderão ser sacrificados a favor de uma melhor segurança.

    O segundo, tem a ver com eventuais atitudes de arrogância e de recusa de ouvir a voz dos outros, sobretudo daqueles a quem pretendemos ajudar. Uma tal atitude será sempre, em qualquer circunstância, contraproducente.

    II – As Relações Transatlânticas

    A Europa apoiou Washington de forma unânime e espontânea. Não foi apenas a reacção emocional a uma agressão cobarde contra um aliado, mas uma resposta racional contra um inimigo que bem conhece: o terrorismo.

    O grau de urgência sentido por cada um dos Estados-membros da União Europeia foi diferente consoante as diversas experiências nacionais. Nenhum país podia ou pode virar a cara ao combate contra o terrorismo que está à nossa porta e pode entrar pela nossa casa a qualquer momento. Isso mesmo nos foi lembrado - como se fosse necessário - pelo trágico atentado de 11 de Março, aqui ao lado, em Madrid.

    Com o processo que conduziu ao derrube de Saddam Hussein e à consequente alteração política em curso no Iraque, é notório que se registaram tensões entre os dois lados do Atlântico, originando fissuras com consequências importantes até ao nível das opiniões públicas.

    Hoje, no entanto, creio que os Governos envolvidos nesse debate olham sobretudo para o futuro. A prioridade política quanto ao Iraque é apoiar o processo de estabilização e democratização, no quadro de um mandato aprovado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pelo Governo transitório iraquiano. Nesta tarefa, a Europa e os Estados Unidos estão lado a lado, mesmo se, por vezes, com ópticas diferentes.

    A Comunidade Internacional, empenhada em garantir ao povo iraquiano a viabilidade da paz e do desenvolvimento, tem de permanecer firme nos princípios e nas convicções.

    Como afirmou há poucos dias o Senhor Primeiro-Ministro perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, “não podemos alterar o passado, mas devemos assumir que poderemos ainda influenciar positivamente o futuro. Para tanto teremos de saber encontrar rapidamente a nossa unidade”.

    É, contudo, óbvio que a polémica iraquiana fez questionar a parceria atlântica. O tema nem sequer é novo, ressurgindo ciclicamente. Nova foi, talvez, a veemência das discussões. Com que resultado?
    Um estudo de um grupo eminente liderado por Henry Kissinger, Lawrence Summers e Charles Kupchan, patrocinado pelo “Council on Foreign Relations” constitui uma resposta sensata a essa questão.

    Nele se conclui que, e cito, “apesar dos desafios serem diferentes, os benefícios da parceria transatlântica continuam a ser substanciais, tal como os custos, quando se permite que essa parceria se desgaste. As recentes tensões demonstram não apenas as dificuldades que se erguem quando a América e a Europa são incapazes de agir como parceiros, mas também que os problemas mais prementes são melhor abordados em conjunto. A Europa e a América têm muito mais a ganhar como aliados do que como neutrais ou adversários.”

    Robert Kagan teve o seu momento de glória quando contrapôs a força à docilidade, escrevendo que “os americanos são de Marte e os Europeus são de Vénus”. Creio que ambos somos da Terra e ainda não estamos em condições de habitar planetas diferentes. Quanto muito podemos pragmaticamente aspirar a ir, isolados ou conjuntamente, a umas estações orbitais…

    Em boa verdade, a riqueza, quer da Europa, quer dos Estados Unidos, assenta na diversidade que cada um contém. Mas, de um lado e do outro do Atlântico, defendemos os mesmos princípios de paz, de liberdade e de democracia; temos em comum valores civilizacionais; e partilhamos uma vastidão de interesses mútuos. Esta constatação faz com que aquilo que nos une seja, sem dúvida, mais forte do que o que, eventualmente, nos possa separar.

    É neste contexto do relacionamento transatlântico que se coloca a questão crucial da orientação estratégica das capacidades europeias de defesa e da sua articulação com a Aliança Atlântica. A resposta do Governo português numa palavra é: complementaridade.

    Entendemos que o aprofundamento da dimensão europeia de segurança e defesa deverá ser prosseguido em estrita complementaridade entre a UE e a NATO, que continua a ser tão relevante como foi no passado para a segurança euro-atlântica. Defendemos, por isso, o reforço da parceria estratégica e da articulação de esforços entre as duas instituições, de forma a evitarmos duplicações desnecessárias.

    Portugal é um país de centralidade atlântica, simultaneamente europeu e atlântico. Como tal, é dos que mais tem a ganhar com a complementaridade entre a União Europeia e a NATO, e mais a perder com uma visão concorrencial. Esta é uma questão política mas também de recursos, que são escassos.

    Aliás, no que se refere a recursos, não devemos alimentar ilusões. A partilha de responsabilidades na arquitectura de segurança transatlântica e europeia, assente no aumento das capacidades europeias, exige um esforço suplementar dos europeus. Esta realidade é incontornável num sector em que o aspecto tecnológico é cada vez mais decisivo.

    Para responder afirmativamente ao pedido de partilha de custos e responsabilidades do aliado transatlântico e realizar o seu objectivo de crescente afirmação e influência diplomática, a Europa deve desenvolver meios para uma autonomia militar complementar mas, também, mais ampla relativamente aos Estados Unidos. Mesmo entre irmãos, é salutar haver duas cabeças pensantes.

    III – As Relações entre Portugal e os Estados Unidos

    Esta posição nacional tem raízes antigas e sólidas. Portugal foi um dos primeiros países a reconhecer a independência dos Estados Unidos. Não serei original ao recordar aqui que o Abade Correia da Serra, nosso primeiro representante diplomático naquele país, poderá não ter conhecido Alexander Hamilton com a profundidade com que o Professor John Harper o conhece, mas era amigo próximo de Thomas Jefferson e uma visita frequente na sua casa de Monticello.

    A presença marcante da comunidade de origem portuguesa no território norte-americano, de New Bedford ao Hawai é, desde logo, a face mais visível da forte ligação entre as nossas duas nações.
    O Acordo de Cooperação e Defesa constitui actualmente o quadro institucional do relacionamento bilateral entre Portugal e os Estados Unidos. Para além de definir as condições de utilização da Base das Lages, cuja relevância geoestratégica é sobejamente conhecida, o acordo define amplos objectivos de cooperação, que envolvem as áreas política, militar, económica, comercial, científica e cultural, bem como a cooperação específica com os Açores.

    O historial secular de cooperação dá-nos garantias quanto à sua continuidade mas também nos traz responsabilidades acrescidas, devendo perspectivar-se, sobretudo, nos vastos interesses comuns que se projectam no futuro, quer no campo político, quer na esfera económica.

    Portugal tem permanecido firme ao lado do seu aliado norte-americano, adoptando uma postura moderadora e conciliadora nos momentos mais difíceis. No quadro multilateral, cooperamos activamente com Washington na NATO, no diálogo União Europeia – Estados Unidos (é, precisamente hoje, lançada uma iniciativa da Comissão Europeia com o objectivo de, através de uma discussão o mais abrangente possível, promover uma maior integração transatlântica, inovação, criação de emprego e competitividade dos dois lados do Atlântico), na OSCE, ou ainda na PSI (Proliferation Security Initiative) e na Comunidade das Democracias.

    Simultaneamente, temos procurado sempre que as Nações Unidas desempenhem o lugar central que lhes cabe por direito próprio nas grandes questões internacionais.

    Acredito que num mundo interdependente, em que crescem ameaças com potenciais repercussões globais – desde o terrorismo à proliferação nuclear, passando pelas alterações climatéricas – a resposta reside na via multilateral. E julgo inútil insistir na esterilidade do contraponto maniqueísta entre as visões de um mundo multipolar ou unipolar.

    Permitam-me concluir reiterando o valor da aliança entre todos os que se revêem nos objectivos que levaram à adopção da Carta das Nações Unidas.

    Tal como o nazismo no século passado, o terrorismo é hoje a grande ameaça. Em 39, quando o mundo livre estava em perigo, a voz da razão e da coragem de Churchill preparou os nossos pais e avós para o “sangue, suor e lágrimas” necessários à decisão de “nunca desistir”. Também agora não podemos ceder.

    Reflectindo a nossa memória colectiva como povo navegador, Pessoa escreveu: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu mas nele espelhou o céu”. Mantenhamos a confiança no mar, elemento fundador e sempre renovador da Comunidade Transatlântica.

    António Monteiro

    29 de setembro de 2004

    Debate. EUA e ordem internacional

    Arquive-se.

    Auditório da FLAD


    O Ministro dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas, António Monteiro, preside amanhã (14h30), conjuntamente com Rui Machete, Presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e Nuno Severiano Teixeira, Director do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) à sessão de abertura da conferência «Estados Unidos e a Ordem Internacional».

    Temas da conferência:

    1. As Grandes Mudanças da Política Externa Norte-Americana
    2. Visões Americanas da Ordem Internacional
    3. A Política Externa Norte-Americana e as Eleições Presidenciais
    4. A Europa, os Estados Unidos e o Médio Oriente
    5. Os Estados Unidos e a América Latina
    6. A Crises Transatlânticas no post 11 de Setembro

    Questão de Olivença.

    O Grupo dos Amigos de Olivença faz o ponto de situação e refere posição de
    Santana Lopes. O que dirá Sampaio? VEXA deve saber.

    Arquive-se.

    Questão de Olivença

    Comunicado

    Reunindo-se o Presidente do Governo de Espanha e o Primeiro Ministro de Portugal, no âmbito da XX Cimeira Luso-Espanhola, o Grupo dos Amigos de Olivença, torna público o seguinte:

    1.

    A Questão de Olivença continua por resolver: Portugal não reconhece a soberania de Espanha sobre Olivença e considera o território, de jure, português.

    Designadamente, a Assembleia da República levou o assunto a discussão em Plenário, os Tribunais portugueses têm indicado que o conflito exige solução pela via diplomática e, facto inédito entre dois Estados europeus, não é reconhecida a fronteira nem estão fixados os limites entre os dois países, na zona, ao longo de dezenas de quilómetros.

    O assunto é tema na imprensa internacional e suscitou a atenção das chancelarias. Em Espanha, enquanto sectores político-diplomáticos autorizados associam a situação de Olivença aos casos de Gibraltar, Ceuta e Melilha, outros evidenciam incomodidade e nervosismo, tudo abundantemente reflectido na comunicação social.

    Também o actual Primeiro Ministro de Portugal, pouco antes de assumir o cargo, manifestou publicamente a sua simpatia pela reivindicação de Olivença e declarou que «há alguma incoerência nalgum esquecimento em relação aquela que é a história de Olivença».

    Inquestionavelmente, a Questão de Olivença está presente na realidade política Luso-Espanhola.

    2.

    O Governo português, conforme o comando constitucional, tem, repetidamente, explicitado que «mantém a posição conhecida quanto à delimitação das fronteiras do território nacional» e que «Olivença é território português». Se o anterior Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Martins da Cruz, reiterou que «temos um problema mas temos de o resolver», mais recentemente a então Senhora Ministra, Dra. Teresa Patrício Gouveia, veio explicitar que «o Governo português se mantém fiel à doutrina político-jurídica do Estado português relativa ao território de Olivença».

    3.

    O litígio à volta da soberania de Olivença, propiciando, pela sua natureza, desconfiança e reserva entre os dois Estados, tem efeitos reais e negativos no seu relacionamento.

    Se o confronto se evidencia, aparentemente, em episódios «menores», também é certo que muitos dos atritos e dificuldades verificados em áreas relevantes da política bilateral têm causa na natural persistência da Questão de Olivença.

    4.

    É escusado, é insustentável e é inadmissível, prosseguir na tentativa de esconder um problema desta magnitude.

    A existência política da Questão de Olivença e os prejuízos que traz ao relacionamento peninsular, impõem que a mesma seja tratada com natural frontalidade, isto é, que seja inscrita – sem subterfúgios – na agenda diplomática luso-espanhola.

    Não é razoável nem correcto o entendimento de que tal agendamento põe em causa as boas relações com entre Portugal e Espanha e prejudica outros interesses importantes. Uma política de boa vizinhança entre os dois Estados não pode ser construída sobre equívocos, ressentimentos e factos (mal) consumados. A hierarquia dos interesses em presença não se satisfaz com a artificial menorização da usurpação de Olivença.

    5.

    As circunstâncias actuais, integrando Portugal e Espanha os mesmos espaços políticos, económicos e militares, verificando-se entre eles um clima de aproximação e colaboração em vastas áreas, são as mais favoráveis para que, sem inibições nem complexos, ambos os Estados assumam finalmente que é chegado o momento de colocar a Questão de Olivença na agenda diplomática peninsular e de dar cumprimento à legalidade e ao Direito Internacional.

    6.

    O Grupo dos Amigos de Olivença, com a legitimidade que lhe conferem 66 anos de esforços pela retrocessão do território, lança um desafio aos Governantes dos dois Estados para que, no respeito pela História, pela Cultura e pelo Direito, dêem início a conversações que conduzam à solução justa do litígio.

    O Grupo dos Amigos de Olivença, fazendo seus os anseios de tantos e tantos portugueses, apela ao Governo de Portugal para que, resolutamente, leve por diante a sustentação dos direitos de Portugal.

    O Grupo dos Amigos de Olivença dirige-se a todos os cidadãos e pede-lhes que, no pleno exercício dos seus direitos, se manifestem e tornem público o seu apoio à defesa da Olivença Portuguesa.

    Lisboa, 29 de Setembro de 2004.

    A Direcção.

    27 de setembro de 2004

    Dos Leitores. O projecto Camões

    Reflexão pertinente.

    Arquive-se.

    De M. L.
    Em que país é que vivemos?

    Um país em que aquilo em que o Estado investe é rapidamente posto de lado e tratado como "lixo". Tem-se publicado muitas notas verbais e notas formais sobre o que se está a passar no Instituto Camões. Foram enviados correios electrónicos para várias pessoas responsáveis neste nosso país. SEXA o Senhor Presidente da República Portuguesa foi informado do que se está a passar nessa importante Instituição. SEXA o Primeiro Ministro foi informado por várias fontes - desde privadas a oficiais. SEXA o Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação
    Portuguesa recebeu uma petição de vários colaboradores e, ainda, ninguém do seu
    Gabinete, pois naturalmente que se sabe que ele próprio não tem tempo para o
    fazer, deu uma resposta. SEXA o mesmo Ministro recebeu cartas institucionais e
    particulares sobre o que se está a passar e... até agora nada!!!

    Não podemos deixar de pensar que:

    1 - Ou a Dra. Simonetta Luz Afonso está imune a tudo isto e desconheciamos o seu imenso poder.
    2 - Ou SEXA o Primeiro Ministro não quer mais problemas além dos que já são publicamente conhecidos, mas este está a tornar-se cada vez mais complicado.
    3 - Ou SEXA o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que note-se, "chamou a si a tutela desta instituição por a considerar da maior importância"... esqueceu-se que detém esta tutela.
    4 - Ou, e isso lastimamos ter de escrever, o actual Governo esqueceu-se da responsabilidade que tem com mais de 200 milhões de falantes da Língua Portuguesa e vai deixar transformar o Instituto Camões num Centro de Exposições ou num Museu, especialidade da nova presidência.

    Lastimamos esta situação! Mas sentimos que não podemos fazer muito mais. Sentimos a amargura da desilusão e da impotência.

    É muito difícil criar um Projecto, dar-lhe corpo, envolver as pessoas que nele trabalham, fazê-los "vestir a camisola" e acreditar que se estava a fazer algo importante em prol da Língua e Cultura Portuguesas. Tivemos a felicidade de ver acontecer isso no até este momento Instituto Camões. Vimos partir um Presidente que "construiu o Projecto". Vimos chegar uma nova Presidente, que apesar de nomeada por outro Governo, conseguiu perceber o Projecto e encará-lo como uma Missão. Deu-lhe algum cunho pessoal o que é natural, mas procurou manter a "máquina" a funcionar. Assistimos, pela falta de confiança da anterior Ministra dos Negócios Estrangeiros e da sua Secretária de Estado da Cooperação, a um ambiente de desagrado e de inércia no ICA durante alguns meses. Assistimos à tomada de posse da nova Presidente, "amiga de longa data" da Dra. Teresa Gouveia e, perante os discursos de posse acreditámos que a situação ia mudar. Santa inocência ! E, finalmente, assistimos agora à destruição do Instituto Camões...

    Tanto trabalho. Tanta obra por esse Mundo fora. Tanto prestígio para Portugal. Tanta importância para a Língua e Cultura Portuguesas. Para nada.

    Gostaríamos de transformar esta nota em telegrama e enviar para todo o Mundo Lusófono...

    O IPPAR não respondeu... Porquê?

    Submete-se à atenção geral, o texto do historiador Carlos Luna. A questão
    Olivença, claro, ou não seja um dos fantasmas que atormenta a consciência
    diplomática das Necessidades.

    Arquive-se.

    OPINIÃO
    A CIMEIRA IBÉRICA DE 1 DE OUTUBRO

    A data de 1 de Outubro de 2004 caracterizar-se-á por uma Cimeira Ibérica, desta vez em Santiago de Compostela. É assinalável a regularidade com que estes encontros têm decorrido, principalmente após a restauração das democracias na Península desde 1974-1975.

    Equipas de especialistas de ambos os Estados discutirão vários "dossiers", sendo de esperar avanços em vários domínios, num clima de cordialidade. É isso que se deseja. Ninguém de bom senso quererá que Portugal mostre má-vontade, ou desejará que a Espanha tenha uma atitude negativa. Claro, lamentar-se-á que Portugal não consiga dividendos assinaláveis, ou que não consiga equilibrar mais a seu favor várias questões, quase todas de âmbito económico. Isso dependerá da atitude portuguesa nessa cimeira, embora, como sabemos, muito do que poderia ter sido feito neste sentido tenha vindo a ser "adiado" ao longo dos anos. Não são os espanhóis que muitas vezes se têm posto em vantagem em relação a Portugal. Têm sido os portugueses a permitir, e por vezes a aplaudir (!), que uma tal relação de forças se tenha vindo a estabelecer.

    Caberá aos responsáveis portugueses, sejam quais forem os governos ( o actual, e os futuros), elaborarem e porem em prática estratégias e políticas que "melhorem" a situação, ou a "classificação" de Portugal neste "Torneio" Ibérico. E, claro, a toda a sociedade... a começar pelos reputados especialistas que denunciam (e bem!) as fraquezas e os erros da sociedade e do País em geral, mas que (e mal!) não tentam sequer apontar soluções, preferindo o discurso, que parece estar na moda, de que só resta a Portugal chorar sobre os seus "podres" para os quais não há solução possível. Triste País que tais elites ouve... e aplaude!

    O que não se pode negar, penso, é a inegável vontade de Lisboa no sentido de "limar arestas" em relação a Madrid. Em qualquer cimeira, a vontade portuguesa tem sido quase sempre a de chegar a acordo com os políticos espanhóis. Atitude que, aliás, é, em geral, louvável. Também muitas vezes Madrid "lima" algumas "arestas". Afinal, o bom relacionamento entre os dois países convida a um clima de amizade.

    Todavia, em muitos "dossiers", tem-se a sensação de que os pontos de vista espanhóis são quase sempre os adoptados pelos negociadores de Lisboa. È incompreeensível que tal assim tenha sido em alguns dos casos conhecidos. Parece haver um medo de "contrariar" Espanha, mesmo em detalhes insignificantes, por parte da maioria dos governantes portugueses. E esta atitude não será talvez muito saudável nem conveniente. Uma amizade verdadeira pressupõe discussões, perdas e ganhos. Nunca uma sujeição total de um ou outro interveniente.

    Vários casos se poderiam citar de "capitulação" portuguesa... passe o exagero da expressão. Mas há um que não pode ser deixado em claro. É um caso que, por ser talvez o mais antigo, e por ter reflexos ao nível da partilha dos lençóis de água criados com o Alqueva, está sempre presente. Refiro-me, como já muitos terão percebido, a Olivença. Não tanto pelo facto de o Estado Português, como se sabe, apesar de não reconhecer a soberania espanhola sobre a Região, adiar quase constantemente a colocação na Agenda Diplomática da Questão ( o que é inadmissível; basta comparar com a persistência espanhola em torno de Gibraltar ). Mas principalmente, neste momento, pelo que se está a passar em torno da Ponte da Ajuda,sobre o Guadiana, entre Elvas e Olivença.

    Convém recuar um pouco no tempo. Em 1994, Portugal decidiu, nomeadamente graças ao Ministro Durão Barroso, que Lisboa tomaria a seu cargo, integralmente, para que não houvesse sinais de que abdicava de reivindicar a região, a Construção de uma nova ponte no local e a recuperação da Velha Ponte Manuelina, o que foi aceite por Madrid. Em Outubro de 1999, forças policiais espanholas intervieram decididamente nas obras em curso, paralizando-as. Já depois de a nova Ponte ter sido inaugurada em 11 de Novembro de 2000, soube-se que se fizera um estranho acordo, pelo qual o Instituto de Estradas de Espanha poderia recuperar a velha Ponte após parecer do IPPAR. Sem esperar este parecer, que aliás acabaria por ser negativo, a Espanha começou a efectuar obras na velha ponte em 2003, o que motivou tantos protestos que foi decidido parar.

    Com estupefacção, soube-se que a Espanha apresentara novo projecto ao IPPAR, a que este não respondeu, talvez por considerar o seu primeiro "não" definitivo, e que tal ausência de resposta fora interpretada como um sim ao recomeço das obras por Madrid, já a partir de Outubro de 2004 (Jornal "Hoy", Badajoz, 11 de Setembro de 2004), a "confirmar na Cimeira Ibérica de 1 de Outubro"(!) .Pior, a Junta da Extremadura (espanhola, evidentemente), declarou, por essa altura, a Ponte da Ajuda "monumento extremenho/espanhol"... sabendo perfeitamente que a mesma fora declarada monumento português desde 24 de Janeiro de 1967. O que significa que tomou uma decisão unilateral, com laivos ofensivos.Mesmo porque, a 25 de Junho deste ano, todos os partidos políticos parlamentares portugueses concordaram, sem excepção, que havia dúvidas fundamentadas sobre a administração espanhola em Olivença!

    A Imprensa Portuguesa quase não noticiou estas decisões extremenhas/espanholas de Setembro. Aguarda-se com alguma impaciência qualquer afirmação que esclareça o que pensa Lisboa de tudo isto. Não o fazer, poderá significar que se abdicou até do Direito à Indignação. Ou até do Direito de ter uma Diplomacia própria dum país independente, séria, capaz de se fazer respeitar dentro das normas mais elementares do Direito Internacional, a que Portugal e Espanha estão subordinadas.

    É de presumir que Madrid compreenderá que, numa amizade verdadeira e entre entidades soberanas e iguais em direitos e DEVERES, não é possível tomar este tipo de atitudes. E talvez Lisboa comece finalmente a comprender que é quando existe um clima favorável na relação entre dois povos que se devem resolver os litígios pendentes. Sem por em causa amizades, mas sem abdicar de princípios justos.

    Estremoz

    Carlos Eduardo da Cruz Luna (Prof. História)

    Carta do Canadá. De Fernanda Leitão

    Transmite-se na íntegra a «Carta do Canadá» enviada por Fernanda Leitão.

    Arquive-se.

    CARTA DO CANADÁ
    Fernanda Leitão


    Toronto não é Bissau

    No dia 22 de Setembro os empregados do consulado de Portugal em Toronto eram convidados pelo titular da missão, Artur Monteiro de Magalhães, para um almoço, oferecido por ele, dentro das instalações consulares. O cônsul, em pessoa, instava os funcionários a não faltarem por ter, dizia, uma importante comunicação a fazer. Grande expectativa. Nessa noite, alguns deles especulavam que aquilo devia ser “transferência para tacho na União Europeia”. Não achei disparatada a sugestão porque, tendo Portugal batido no fundo com este governo, tudo pode acontecer.

    O dia 23 trouxe aos funcionários consulares um lauto almoço, regado a champagne alemão, e uma desilusão de todo o tamanho. O cônsul comunicou que partiria para Portugal dali a dois dias para não mais voltar ao Canadá, destituído do cargo pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Não sabia porquê, mas calculava que fosse por, na noite de 21 de Agosto, depois de um jantar fora de portas, ter sido obrigado a parar o carro na autoestrada para passar pelo sono, tendo sido acordado por dois agentes da OPP (Ontario Provincial Police, um ramo da Polícia Montada), que o queriam pôr a soprar o balão e verificar-lhe os documentos. Recusou uma coisa e outra, afirmou, porque um diplomata é um diplomata, e aqui infere-se que é um ser acima da lei e das regras. E vai daí, contou, aqueles brutos botaram-lhe algemas e deram-lhe voz de prisão, estando ele inocente como um bébé de mama. Até, por sinal, lhe tinham ferido os pulsos porque ele, macho lusitano, resistiu. Neste passo ergueu-se uma funcionária consular, Arlete Antunes, casada com o correspondente local da Lusa, em brados de revolta incontida, contando que era verdade, o senhor cônsul só a ela tinha mostrado os arranhões e contado a história. Toda a sala se dobrou perante a imponência da Confidente e lhe admirou ter sabido guardar intacto aquele segredo para o marido transformar em “caxa” quando lhe conviesse. Mas Artur de Magalhães, tomado de uma verve incontrolável, adiantou mais pormenores. Depois das algemas e da voz de prisão tinha chegado uma oficial da polícia chamada pelos dois agentes. Diz que uma mulher e tanto, a avaliar pelo ar meio assustado com que Magalhães referiu que se ela lhe tivesse dado uma “barrigada” ele não aguentaria o golpe. Portanto, um pedação de mulher mas, pelo que se verá de seguida, cortês e calma. Nada burra e bem treinada, adiantarei ainda. Por certo com medo da “barrigada”, Magalhães entrou pela vida da negociação: pediu à oficial da OPP que retirasse o mandato de prisão e as algemas e, em troca, ele faria o teste de alcoolémia e mostraria todos os documentos. A mulherona, cordata e delicada, aceitou. Magalhães soprou no balão, a oficial leu os papéis e tomou todas as notas que entendeu, após o que mandou tirar as algemas e disse ao cônsul-geral de Portugal para o Ontário e Manitoba que podia seguir caminho. O diplomata mostrou os arranhões à Confidente e considerou o caso arrumado. Poucos dias antes do almoço oferecido no consulado, recebeu ordem de destituição e de marcha do MNE. Pensou logo em traição do embaixador de Portugal em Otava, Silveira de Carvalho. E, perante os funcionários consulares reunidos na Última Ceia, despejou o saco acerca do embaixador, contou histórias medonhas desde o tempo da Guiné-Bissau, chamou-lhe tudo menos santo. E de caminho, destratou o MNE, aquela corja de maus colegas e piores chefes. A Confidente passou ao ataque, corroborando o que Magalhães dizia. Levantaram-se algumas vozes sugerindo que o Sindicato dos Empregados Consulares se empenhasse na defesa do cônsul. Mas a delegada sindical, Clara Santos, opinou que se devia era mobilizar a comunidade para esta cruzada. A Confidente aplaudiu, secundada por umas quantas e quantos que se regem pela cartilha profissional do “quanto pior é o cônsul, melhor é para mim que posso meter férias umas poucas de vezes por ano, vou a Lisboa quando quero, gasto tempo a jogar no computador em vez de despachar os documentos que aqueles tugas lá foram esperam e pagam, e me passa cartas de recomendação para abichar viagens, cursos e publicações de livros oferecidas pelo governo dos Açores”. Grande cartilha. Abençoada cartilha que tão bons frutos tem dado aos que a usam. Mas, nessa mesma noite, uns quantos funcionários consulares faziam saber que não se deixavam enrolar, que não se vendiam por almoços nem por champagne. Como sei o que a Lusa gasta e o que gasta o correspondente local, nessa mesma noite mandei a notícia para Portugal e para a diáspora. Just in case.

    Na manhã de 24 o semanário Sol Português publicou uma prosa anónima, mas que toda a gente percebeu ser de Fernando Cruz Gomes, intitulada MNE “HOSTILIZA” COMUNIDADE PORTUGUESA. Na tarde desse mesmo dia, o serviço português da estação canadiana OMNI NEWS transmtiu uma peça sobre o assunto. Foi relatado, sem meias palavras, o que afirmou o porta-voz da OPP: convidado a mostrar os documentos, Artur de Magalhães, não só recusou como agrediu os agentes da autoridade. Seguiu-se o que é inevitável nestes casos: algemas e voz de prisão. E chamar a oficial de serviço à zona. Depois da negociação acima descrita, a oficial e os agentes apresentaram o caso ao Ministério dos Negócios Estrangeiros do Canadá, conforme relatou a OMNI NEWS, e este declarou, peremptoriamente, que aquele era um incidente em que não havia imunidade de qualquer espécie. A OPP foi à vida e a ocorrência foi notificada ao embaixador de Portugal que, como era seu dever, comunicou ao Palácio das Necessidades.

    Pelos vistos, Magalhães contava ser encoberto, isto é, que o embaixador não cumprisse o que lhe incumbia. Mas como, santo Deus, se Toronto não é Bissau? É que Bissau é outra largueza para a asneira, como é próprio de países do Terceiro Mundo. Lá, por exemplo, pode um funcionário superior mandar botar luz vermelha na porta do gabinete e transformá-lo em alegre Bataclan, com mulatas e tudo. Ou falhar a entrega do carregamento de medicamentos e alimentos para populações carenciadas, por andar na borga, e depois de desaparecida a mercadoria, estando o patrão fora, dar à sola e andar fugido como um vulgar bardina. Ou estampar um carro CD na Recta do Cabo, com uma alegre companhia lá dentro, e vir-se apurar que era fruto duma contabilidade paralela. Nesses países a liberdade é isto, para os que comem, porque as populações de barriga vazia nem se podem queixar. Em Toronto, e no Canadá todo, é diferente. Ninguém está acima da lei e qualquer um que ponha o pé em ramo verde, mesmo que seja ministro ou diplomata, leva algemas e pode ir parar à prisão. O país alberga emigrantes de 160 países, a quem dá a liberdade de manter a sua língua e tradições, a quem dá até o direito a voto depois de obtida a cidadania, mas não tolera abusos, rebalderias e violências gratuitas. Definitivamente, Toronto não é Bissau – como gostariam alguns desperdícios do império que se arrastam pelos ghettos do atraso.

    No dia 25 de Setembro, foi posta a circular uma carta dirigida ao actual primeiro ministro português em que se defende Magalhães e se pretende enterrar o embaixador. Passo os olhos pelas assinaturas e verifico que, além dum imbecil de nascença, dum cadastrado que defraudou o estado canadiano em mais de meio milhão de dólares e de alguns caloteiros profissionais, há o correspondente da Lusa e mais uns quantos fabricantes de panelas sobejamente conhecidos. É um documento notável e exemplar. Ao que oiço este luzido grupo anda por aí a angariar parceiros para irem a Lisboa fazer um protesto. Benza-os Deus.

    Dou comigo a sentir-me muito feliz, e também orgulhosa, de ser marginal. De viver à margem de toda esta podridão que desprezo. Mas podridão que dói, porque é por causa deste establishment que a comunidade não tem o avanço social e a visibilidade que os seus 50 anos e muito trabalho honrado da grande maioria dos portugueses aqui radicados amplamente pede.

    Resta rematar com uma constatação: na comunidade portuguesa do Ontário eram muitos os que esperavam uma saída destas, embora não a esperassem tão cedo. Querido do establishment que tomou de assalto alguns clubes, associações e jornais, Artur Monteiro de Magalhães foi um cônsul que, um mês depois de estar em Toronto, já tinha mostrado o que é – arrogante, pedante, linguareiro, gabarola e incompetente. Deixa o consulado numa anarquia. E muita gente, e muito boa gente, contra ele. Desde o princípio se percebeu que não tem linha. O que se passou agora e a sua reacção, só o confirma.

    25 de setembro de 2004

    MNE hostiliza a Comunidade de Toronto?

    Transmite-se a versão dos acontecimentos que envolveram o diplomata Artur Magalhães, conforme relato do jornal electrónico Sol Português, de Toronto.

    Arquive-se.

    Com a devida vénia, transcrevemos a versão difundida pelo jornal Sol Português, Semanário, na Edição electrónica de 24 de Setembro de 2004

    Título: MNE "hostiliza" comunidade portuguesa de Toronto
    Subtítulos:
  • Cônsul Artur de Magalhães obrigado a deixar Toronto
  • Inabilidade de várias partes levam ao desfecho de um caso que não mereceria mais que referência passageira

    Texto:
    A notícia está confirmada: Artur Monteiro de Magalhães, o cônsul-geral de Portugal em Toronto – responsável pela área do Ontário e Manitoba – segue amanhã, sábado (25), para Lisboa.
    Alegadamente, será uma viagem para consultas mas, segundo Sol Português foi informado, "sem regresso", aparentemente como "castigo" de que se desconhecem os contornos.
    Pelo que foi possível apurar, o "castigo" não teve acusador formal, procurador de justiça, advogado de defesa ou testemunhas. Apenas juiz e mesmo esse, por enquanto, desconhecido.
    A situação provoca surpresa e tristeza entre os que já sabem da decisão. Poucas vezes a Comunidade Portuguesa desta parte do mundo esteve tão bem servida como agora, expressam uns. Nunca, como agora, se estavam a notar passos decididos e talvez decisivos rumo a uma unidade que é necessária, consideram outros.
    E mesmo que tudo ainda possa voltar atrás, face a uma série de manifestações da Comunidade, que já se esboçam, a verdade é que o caso provoca uma certa mágoa. Para muitos, até "indignação", havendo mesmo quem considere tudo o que se está a passar como um autêntico "insulto" à Comunidade. O cônsul está a ser "acusado" – e nem ele sabe de quê, porque não lhe apresentaram qualquer documento em jeito de nota de culpa.

    Como tudo começou

    Mesmo não se sabendo, detalhadamente, os contornos do problema agora vindo a lume, há indicações de que tudo poderá ter começado quando, há alguns dias – mais precisamente a 21 de Agosto – Artur Monteiro de Magalhães aceitou um convite para participar num convívio com elementos da comunidade às portas de Toronto. Fê-lo no seu estilo habitual de se envolver nas actividades comunitárias e interessado em viver o dia-a-dia de todos.

    No regresso a casa, sentiu necessidade de descansar um pouco por questões de segurança, já que sentia tonturas devido a problemas de foro médico que ultimamente o têm apoquentado. Decidiu parar o carro para descansar antes de prosseguir a viagem. Viajava com ele a sua esposa e uma amiga do casal, que vive em Lisboa mas que estava, então, a passar férias entre nós.

    Algum tempo depois, o cônsul foi acordado pela esposa uma vez que alguém, de lanterna eléctrica em punho, lhe pedia a identificação e documentos do carro. Sem procurar saber se algo de anormal se passava com a sua saúde, e aparentemente sem ter o cuidado de olhar para a matrícula do veículo, que lhe diria imediatamente tratar-se de um carro do corpo diplomático, um agente policial não se preocupou sequer em perguntar-lhe o que se passava e porque é que estava parado na berma da estrada, na faixa de emergência, com os sinais de "presença" ligados.
    Exigiu-lhe que saísse do carro, ao que o cônsul reagiu, dizendo que respondia a todas as perguntas mas dentro do carro, até porque o agente em causa não se identificou e o cônsul sentia-se mal.

    Ao que conseguimos apurar, o agente teria agido de imediato com alguma violência, proferindo palavras desabridas e num crescendo que não se entendeu, desatou a proferir impropérios, não cuidando sequer de ver que estavam duas senhoras no carro. Deu mesmo voz de prisão ao cônsul-geral de Portugal em Toronto, Artur Monteiro de Magalhães.


    Ao que conseguimos apurar, o agente teria agido de imediato com alguma violência, proferindo palavras desabridas e num crescendo que não se entendeu, desatou a proferir impropérios, não cuidando sequer de ver que estavam duas senhoras no carro. Deu mesmo voz de prisão ao cônsul-geral de Portugal em Toronto, Artur Monteiro de Magalhães.

    A chegada de outro agente, sem saber do que se tratava – como diria, no fim, quando tudo se esclareceu – insistiu nas mesmas cenas do colega. Aí, já com murros e palmadas no tejadilho do carro, no sentido de o intimidar, a situação depressa escalou ao ponto de quererem forçar a entrada no carro e retirá-lo do interior de um veículo do corpo diplomático. De algemas em punho, os agentes pretendiam prender o cônsul no meio de um comportamento pouco próprio para agentes da autoridade. O cônsul, decerto para evitar o vexame que seria essa detenção, resistiu, a despeito de lhe terem feito escoriações num dos braços e fazendo-o bater com o joelho na porta.

    Surgiu então uma terceira agente policial que, reparando na forma como os colegas actuavam, os mandou afastar, iniciando um diálogo educado e cordato com o cônsul. Explicou que o que os polícias queriam era que ele fizesse um teste de alcoolemia, altura em que o cônsul se apercebeu das intenções dos agentes e aceitou imediatamente submeter-se ao tal teste, com a condição de lhe retirarem a voz de prisão e sobre ele não exercerem qualquer forma de coacção.

    Aceite a condição, procedeu-se ao teste – que este pensava poder ser feito dentro do seu próprio veículo e não no carro da polícia, como acontece em quase todos os países da Europa. Verificou-se que tinha uma taxa de 0,05, portanto inferior ao limite de 0,08 permitido no Canadá.

    Em vez de lhe pedirem desculpa de toda a bravata, porém, entenderam os agentes que deveriam queixar-se do cônsul português, dando sequência ao que ele, como forma de facilitar a abordagem do incidente, insistentemente pedia: para falarem com o oficial de ligação com o Protocolo canadiano e com a Embaixada Portuguesa. Fizeram isso, muito depois, mas com "nuances" que nem dignas são.

    Pelo telefone, passaram ao ataque, distorcendo o pedido do Cônsul, dizendo primeiramente que este havia feito "obstrução à Justiça" e que tinham vários fundamentos para fazerem uma acusação formal. Numa segunda versão alegaram que o diplomata havia magoado um dos agentes numa mão ao fechar o vidro da janela e, numa terceira e última versão, dizendo que o cônsul deu um murro num dos agentes.

    O "mensageiro" falhou

    Pelo que nos foi possível apurar, até ao momento não houve uma queixa formal apresentada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal. Nenhum documento foi apresentado, nem nenhum acto transmitido a papel.

    O único documento que Sol Português soube ter chegado ao cônsul — e mesmo esse segundo a versão que nos chega de Lisboa — é de que ele é "chamado" mas "sem regresso ao posto". É de supor que quem fez chegar a notícia a Lisboa não terá apresentado a situação por completo.

    A Polícia no Canadá, e especialmente em Toronto e arredores, tem fama de ser dura. Essa dureza já motivou alegações de vários diplomatas que foram objecto da sua animosidade e que sentem parecer que estes fazem gala em levar os diplomatas estrangeiros a tribunal, em nome de uma pretensa aparência de igualdade de tratamento.

    Assim foi que o actual cônsul português passou de vítima a réu sem o saber.

    Surpresa para a Comunidade

    A comunidade em geral ainda não sabe da situação, Nós próprios só fomos conseguindo obter informações sobre os incidentes aqui descritos porque, ao notarmos algumas escoriações no braço de Artur Monteiro de Magalhães, fomos "pescando", conseguindo saber umas quantas coisas. Na sequência da nossa investigação, nem ele nem nós acreditávamos, na altura, que o "caso" – que não se esperaria o chegasse a ser e não passaria de uma má noite para todos os intervenientes – assumiria tamanhas proporções.

    Tanto quanto julgamos saber, o cônsul Artur de Magalhães já fez saber ao Embaixador que gostaria de ir a Tribunal para clarificar tudo, desde que isso não seja desprestigiante para Portugal. No entanto, a situação evolui até à chamada de Lisboa para regressar e Artur Monteiro de Magalhães vai-se embora. Ninguém se manifesta oficialmente e é impossível adivinhar se volta e quando. Tudo indica que não.

    Sol Português tentou ouvir o Cônsul-Geral de Portugal em Toronto, que, polida mas firmemente, se recusou a prestar declarações.

    De igual modo, ao contactarmos o Embaixador em Otava, João Pedro Silveira de Carvalho, este indicou não lhe ser possível prestar declarações sobre o caso uma vez que este está pendente.
  • A galhofa de Toronto. A versão de Arlete Antunes.

    Transmite-se a nota oficial ou oficiosa da funcionária do Consulado-Geral em Toronto, Maria Arlete Antunes, sobre o caso que envolveu o diplomata Artur Magalhães. Cópias para o diplomata Artur Magalhães e para o Embaixador em Otava, Silveira de Carvalho que, segundo Arlete Antunes, «nem sempre faz». A nota de Arlete Antunes, citada no âmbito de uma invocada gentileza de Fernando Cruz Gomes, foi divulgada pelo fórum PortugalClub dirigido pelo nosso Embaixador honorário Casimiro Rodrigues que faz mais num segundo pelo diálogo entre portugueses do que outros em quatro anos de consulado-geral em consulado-geral.

    Arquive-se.

    Não fora o facto de NOTAS VERBAIS serem de índole galhofeira, acabaria por ficar muito triste e mesmo revoltada com este chorrilho de disparates. Os funcionários do Consulado-Geral de Portugal – tanto quanto eu sei e, de uma forma geral, todos sabem, designadamente o sr. Carlos Albino - são, de uma forma geral, gente ordeira, cumpridora, sem necessidade de se porem em bicos de pés. Portanto, a nota de... NOTAS VERBAIS dá quase para ignorar.

    O Cônsul-Geral de Portugal em Toronto, Dr. Artur Monteiro de Magalhães, não incitou ninguém à revolta. Deu a sua versão dos acontecimentos. E deu, sobretudo, a indicação de que não foi ouvido nem lhe foi apresentada nenhuma nota de culpa. E isso em qualquer país democrático - no Canadá como em Portugal – NÃO PODE SER. A informação dada vem na linha de diálogo que o Dr. Monteiro de Magalhães sempre imprimiu entre os seus colaboradores.

    Se as Notas Verbais – através do seu informador de índole “pidesca” de triste memória, infiltrado entre nós e sem escrúpulos... - tivessem razão, deveria o Cônsul-Geral ser chamado a depôr, com testemunhas e advogados de defesa; deveria o Embaixador defender o caso, para que a comunidade saiba que tem um Embaixador à altura das circunstâncias; deveria, em suma, fazer-se um processo como manda a Justiça. E aí, se ele fosse condenado... eu seria, decerto, a primeira a juntar a minha voz aos que criticam o (des)governo de Lisboa, em frase que até nos parece de índole político-partidária...

    Notas Verbais e os seus informadores erraram o alvo. O que é pena, porque, às vezes, até dizem coisas de certo interesse. Há, de facto, uma certa “turbulência” na comunidade mas por que o Cônsul estava a trabalhar activamente na solução dos muitos problemas que por cá havia (e há), estava a tentar fazer a ponte entre as diversas tendências comunitárias, estava, em suma, a fazer o trabalho que um Cônsul deve fazer. Sobretudo, quando, nem sempre, o Embaixador o faz.

    Acho que esta nota deve ser considerada de repúdio.

    Maria Arlete Antunes

    Funcionária do Consulado-Geral de Portugal em Toronto

    Os mistérios da Capela das Necessidades!

    Comunico a SEXA que há fantasmas e almas penadas na Capela das Necessidades. Quem diria? Não será de evitar passar por aí à meia-noite?

    Arquive-se.

    De Chana, pelos vistos diplomata do velório:

    «Tudo se encobre na capela da Senhora das Necessidades!

    «Os rapazes que prevaricam são chamados ao gabinete do SG, este passa-lhes um "raspanete" moderado e não vai passar nada. Mas porque é que deveria passar, se colocaria em causa o prestigio do bispo, dos padres, dos sacristãos e dos meninos do coro?

    «A classe deve manter-se incólume aos perigos da crítica e sussurros do exterior.

    «Essa capela, e poucos o sabem, está cheia de podridão, e nas catacumbas jazem os ossos dos "fantasmas" e, as almas "penadas" dos Távoras e de outras vítimas que em espiral e invisíveis flutuam dentro dessas salas onde impera a prepotência, o nepotismo, a ignorância e a mediocridade.

    «Quando se vêem em apuros perante a Lei dos países onde estão acreditados, invocam, perante as autoridades, o estatuto de diplomata e a imunidade. Só que estas se estão nas tintas para o irmão e devoto da Senhora das Necessidades.

    «Cumprimentos

    Chana ( mártir e acendedor das velas dos altares da capela da Senhora das Necessidades)»

    24 de setembro de 2004

    Os contratos do Camões. Ilegais?

    Para consideração superior.

    Arquive-se.

    De MGFT:

    «Essa história dos contratos é realmente uma situação bizarra!

    Os contratos são de facto inválidos, como ficou provado pelo Relatório da Inspecção-Geral da Administração Pública. Entre vários motivos estão o excesso de recurso à contratação de pessoal em regime de ajuste directo, isto é, e como deve saber, sem consulta pública...

    Mas, por outro lado, e a respeito destes contratados (desde contratos de avença a aquisição de sreviços e bolsas) a equipa da referida Inspecção afirma no mesmo Relatório:

    "(...) quer pela análise das várias e sucessivas propostas de contratação e de pagamento, quer por observação directa, a equipa de auditoria apurou que o Instituto Camões dispensa a muitos destes prestadores de serviços um tratamento semelhante à prestação de trabalho subordinado, facto evidenciado, designadamente, pelas circunstâncias seguintes:

    - muitas das pesssoas contratadas ao abrigo do mencionado quadro legal encontram-se diariamente nas instalações do Instituto Camões (tendo equipamento e instalações afectas), cumprindo horário de trabalho (...);

    - existem justificações de ausência ao trabalho, quer por doença, quer para a realização de provas académicas;

    - são realizados pagamentos de horas extraordinárias (...);

    - foi pedida uma "acumulação de funções" por um avençado (...);

    - é realizado, anualmente, u pagamento interna e informalmente referenciado como "retribuição de Natal", calculado por referência a duodécimos dos pagamentos mensais, invocando-se a prestação de serviços(...);

    - os particulares contratados em "regime de aquisição de serviços" auferem uma remuneração certa mensal.

    Tratando-se, como a factualidade apurada fortemente indica, de trabalho subordinado, as contratações em causa, sem prejuízo da produção de todos os seus efeitos no período em que estiveram em execução, são nulos (...), podendo ainda gerar responsabilidade civil, disciplinar e financeira dos dirigentes que a celebraram e autorizaram (...)"

    Posto isto, a IGAP RECOMENDA que a situação seja regularizada, como é óbvio.

    Acredito que a Presidente do Instituto Camões tem um estatuto (ou tinha, já não sei) que lhe premite resolver esta questão a bem dos referidos colaboradores e dos serviços. Como bem colocou no seu blog, uma divisão, por exemplo, com 13 funcionários, vai perder 10...

    A questão que a meu ver se coloca neste momento é que estes colaboradores (alguns já dispensados no final de Agosto, outros sê-lo-ão no final de Outubro e os restantes no final de Dezembro) estão a ser substituídos por outros que entram nas mesmas condições, mas que, por fazerem favores pessoais a "dirigentes" instalados, terão acesso a contratos "legais", que não serão sujeitos a oferta pública, mas que se revestirão outra natureza que os permita ao fim de um ano entrar nos quadros do Instituto Camões, que, por sinal, está cheio de vagas.

    Enquanto isto se passa, em todos os corredores se ouvem funcionários queixosos a prever uma triplicação do seu serviço num futuro bastante próprio.

    Como é que uma instituição da dimensão do Instituto Camões pode "dar-se ao luxo" de dispensar 30 pessoas qualificadas. Como ficará o Camões?

    As pessoas não são insubtituíveis, mas as rotinas são difíceis de se adquirir, quanto mais quando os que os vêm substituir estão cheios de si e com as costas muito protegidas!!!»

    Kofi Annan: «Il ya encore du pain sur la planche!»

    Kofi Annan no Banquete da Francofonia em Nova Iorque. Original para SEXA e cópias para circulação no Conselho de Concertação Permanente da CPLP

    Arquive-se.

    De Nova Iorque.

    Transmito a VEXA o texto do discurso de Kofi Annan no Banquete da Francofonia em Nova Iorque, na quinta-feira. Anoto particular ênfase do Secretário-Geral ao «combate que a Francofonia desenvolve a favor da diversidade linguística e cultural», o que como VEXA sabe é bem patente na Guiné-Bissau, em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe que figuram entre os 55 membros dessa organização, em grande parte Estados soberanos mas também entidades políticas como a Província do Novo Brunswick (Canadá) e o Quebeque e Conunidade Francesa da Bélgica (Valónia - Bruxelas). Admite-se que o Secretário-Geral possa dizer, algum dia da Lusofonia e da língua portuguesa o que diz da Francofonia e da Língua Francesa, mas para tanto a CPLP tem que ao menos organizar um banquete em Nova Iorque desde que não tenha maionese. Passo a transcrever - perdoe-me VEXA a francofonia - le texte du message délivré par le Secrétaire général, Kofi Annan, à l’occasion du dîner de la Francophonie qui s’est tenu à New York le 23 septembre 2004:

    «Mon épouse et moi sommes très heureux d’être des vôtres ce soir. C’est toujours un bonheur pour nous de retrouver nos amis de la grande famille francophone. Je voudrais, sans tarder, remercier nos hôtes, Monsieur le Ministre des affaires étrangères de la France et Madame Barnier, de leur aimable et généreuse invitation.

    «Plus qu’une tradition, ce dîner est le signe du plaisir que les francophones du monde entier éprouvent à resserrer leurs liens d’amitié. Des liens tissés au fil de l’histoire, mais aussi tournés vers l’avenir. Face à la tentation de diviser le monde en blocs ethniques, religieux ou culturels, les francophones défendent l’idée d’une communauté de cœur et d’esprit, fondée sur des valeurs partagées: la liberté, l’égalité, la tolérance. C’est tout le sens du combat que la Francophonie mène en faveur de la diversité linguistique et culturelle. Je rends hommage à cette volonté d’ouverture au moment où le dialogue des cultures est plus nécessaire que jamais.

    «Dans deux mois, le Sommet de Ouagadougou doit fixer les orientations de la Francophonie pour les dix ans à venir. L’ONU appuie sans réserve un mouvement qui sert la cause de la démocratie, des droits de l’homme, de la paix et du progrès.

    «Cette belle langue française que vous avez en partage est un trésor. Je sais que je ne lui rends pas toujours justice. Mais croyez bien que je saisis toutes les occasions de parfaire mon français. Pour mon plus grand bonheur, j’ai découvert une nouvelle méthode : apprendre par la gastronomie. En effet, j’ai remarqué que celui qui maîtrise le vocabulaire culinaire peut savourer n’importe quelle conversation, y compris le jargon diplomatique.

    «Ainsi, tout récemment, un diplomate que j’interrogeais sur l’issue d’une négociation, me répondit mi-figue, mi-raisin:

    «On fait monter la mayonnaise. Chacun veut mettre son grain de sel. Si les choses tournent au vinaigre, on pourrait se retrouver dans le pétrin.

    «Craignant que la presse n’en fasse ses choux gras, j’ai tout de suite mis la main à la pâte. J’ai conseillé à chacun de mettre de l’eau dans son vin. Ils ont fini par couper la poire en deux. Mais ce ne fut pas du gâteau!

    «Chers amis, avant de lever le verre de l’amitié, je veux vous souhaiter une excellente soirée. Gardons à l’esprit ce moment de partage et poursuivons nos efforts pour construire ensemble ce monde meilleur auquel nous aspirons tous.

    «Il y a encore du pain sur la planche!

    Kofi Annan»

    23 de setembro de 2004

    A tal pergunta sobre Olivença.

    Perguntar não ofende.

    Arquive-se.

    De Mr. Rilvas:

    «PORQUE NÃO APROVEITA UM ENCONTRO COM O EMBAIXADOR ANTÓNIO MONTEIRO, NA NOVA ABERTURA AOS CORRESPONDENTES DIPLOMÁTICOS, PARA COLOCAR A QUESTÃO ABERTAMENTE: "TEM O SENHOR MINISTRO A INTENÇÃO DE SUSCITAR COM O SEU COLEGA ESPANHOL A QUESTÃO DE OLIVENÇA ? SE NÃO, PORQUÊ ?"

    22 de setembro de 2004

    Instituto Camões. Quadros e ardósias.

    Sobre o concurso de leitores, dizem que no Instituto Camões... É verdade?

    Arquive-se.

    De M:

    «O que se passou no Concurso de Leitores do Instituto Camões?

    «Como é que o júri, onde se encontrava, a par do brilhante e esclarecido Professor Doutor Eduardo Prado Coelho, a actual Presidente do Instituto Camões e a muito "falada" Chefe de Divisão dos Serviços de Língua (que por sinal foi leitora durante muitos anos), dispensou nomes conceituados da Língua Portuguesa, alguns com grau de mestre ou de doutor, e entregou o cargo a jovens recém licenciados?

    «Será que os candidatos vão ficar calados? Segundo consta não!!!! Vem aí mais uma polémica do Instituto Camões.»

    17 de setembro de 2004

    Fora dos Limites e mesmo sem Fronteiras...

    A «resolução» de MUÑOZ RAMÍREZ sobre Olivença. Foi demasiado longe e pode entornar o caldo. Faça-se circular pelos serviços, com cópias para a Chancelaria das Ordens Honoríficas e para a Comissão de Limites e Fronteiras do MNE.

    Arquive-se.


    (Da Extremadura espanhola)

    «CONSEJERÍA DE CULTURA

    RESOLUCIÓN de 6 de septiembre de 2004, del Consejero de Cultura, por la que se incoa expediente de declaración de bien de interés cultural para el Puente de Ajuda en la localidad de Olivenza. Vista la solicitud presentada por el Ayuntamiento de Olivenza para que se declare bien de interés cultural el Puente de Ajuda en dicha localidad. Visto el informe elaborado por los técnicos de la Consejería de Cultura, en el que se señala que el puente mencionado reúne valores tanto históricos como artísticos que le hace merecedor de una posible declaración como bien de interés cultural, en la categoría de monumento.

    En virtud de las competencias en materia de Patrimonio Cultural, Histórico-Arqueológico, Monumental, Artístico y Científico de interés para la región, recogidas en el art. 2.1 de la Ley 2/1999, de 29 de marzo, del Patrimonio Histórico y Cultural de Extremadura, así como en el art. 7.1 apartado 13 del Estatuto de Autonomía de Extremadura.

    R E S U E L V O :

    Primero.- Incoar expediente de declaración de bien de interés cultural para el Puente de Ajuda en Olivenza (Badajoz), en la categoría de monumento, para el reconocimiento y la protección de este elemento del patrimonio cultural extremeño.

    Segundo.- Continuar la tramitación del expediente, de acuerdo con la legislación vigente.

    Tercero.- Remítase la presente resolución al Diario Oficial de Extremadura para su publicación y la apertura de un trámite de información pública por periodo de un mes.

    Cuarto.- Notifíquese al Ayuntamiento de Olivenza, al Registro General de Bienes de Interés Cultural del Ministerio de Educación Cultura y Deporte para la anotación preventiva, al Ministerio de Fomento y publíquese en el Boletín Oficial del Estado.

    En Mérida a 6 de septiembre de 2004.

    El Consejero de Cultura,

    FRANCISCO MUÑOZ RAMÍREZ»

    16 de setembro de 2004

    Declarações de António Bento Bembe (FLEC)

    Submeta-se à consideração superior, o texto com declarações do secretário-geral da FLEC, António Bento Bembe, publicadas na página http://www.ibinda.com/noticias.php?noticia=1117, e que se transcrevem.

    Arquive-se.


    Primeira entrevista do secretário-geral da FLEC
    Bento Bembe defende uma solução política para Cabinda
    2004-09-14 00:22:55

    Cabinda - António Bento Bembe, secretário-geral da nova Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), concedeu ao Ibinda.com a sua primeira entrevista após a fusão dos dois movimentos político militares cabindas, FLEC/FAC e FLEC Renovada. Para este dirigente, que defende uma solução política para Cabinda, a actual estrutura do movimento sai reforçada na união, e, salienta, «pela primeira vez, numa tal decisão, participou a sociedade civil e particularmente a igreja».

    Bento Bembe garantiu ao Ibinda.com estar, «mais do que nunca», certo que, desta vez, a «esperança de união foi concretizada com o trabalho que foi realizado, reforçado com a implicação de grandes personalidades, tais como da igreja», e acrescentou estar convicto «que só a unidade nacional pode ser a garantia para negociações credíveis com Angola, e para a continuidade da nossa luta até à vitória». Na opinião do secretario-geral da FLEC «o povo agora pode ter maiores esperanças, para que Cabinda possa encontrar uma solução justa num futuro breve».

    A recente fusão dos dois movimentos (FLEC/FAC e FLEC Renovada), e a consequentemente incorporação das duas estruturas numa só, redimensionou o movimento. No organigrama da actual FLEC, Nzita Tiago é o presidente e Bento Bembe ocupa o cargo de secretário-geral. Com o objectivo de «dissipar qualquer dúvida», dado que ocupara anteriormente o posto de presidente da FLEC Renovada, Bento Bembe considera que «a actual posição» que ocupa «é uma evolução».

    «Deveremos reconhecer a personalidade do presidente Nzita para ocupar o posto de presidente do movimento nesta nova estrutura da FLEC», deixou claro Bento Bembe, acrescentando que «temos de compreender de onde é que o presidente Nzita vem e quais foram os seus sacrifícios. Ele merece esta posição pois foi na base de um consenso que assim decidimos. Não fomos para Emmaus (Holanda) por causa das posições mas sim com o objectivo de respondermos positivamente aos apelos constantes do nosso povo para a união das duas principais forças». O dirigente garantiu ainda ao Ibinda.com que se sente «muito motivado, porque é desta vez, com a actual estrutura, poderemos fazer um trabalho ainda maior».

    Com a recente «Operação Vassoura», uma ofensiva militar angolana em Cabinda, a FLEC/FAC e a FLEC Renovada reviram e readaptaram toda a logística militar. No intuito de garantirem a manutenção de uma e outra resistência, como escudo contra cada uma das suas próprias posições, as resistências já colaboravam mutuamente. No novo quadro da FLEC e consequente fusão das estruturas, as forças armadas saem assim reforçadas em efectivos globais, áreas controladas e armamento. No entanto, Bento Bembe garante que a fusão «não foi com o desejo de engrossar as fileiras das forças armadas» e adianta que a decisão de fusão dos dois movimentos foi tomada «porque esta sempre foi a exigência do nosso povo. A fusão é a resposta exacta às aspirações do nosso povo. Seja a FLEC/FAC, seja a FLEC Renovada, eram ambos dois movimentos político militares, assim a fusão foi a fusão de ambas as vertentes, mas», adverte, «não significa que vamos intensificar a guerra com Angola, essa guerra já foi feita durante mais de 30 anos, e com a guerra não tivemos os resultados esperados, nem Angola nem nós, assim agora nossa luta deve ser uma luta política».

    Bento Bembe revelou que a FLEC «está disposta a negociar o fim das hostilidades para por fim ao estado de guerra em Cabinda», acrescentando que «não há nenhuma outra hipótese senão a via política para implantar a paz em Cabinda». Para o secretário-geral, a fusão dos dois movimentos «permite à FLEC», no quadro do recém criado Fórum Cabindês para o Dialogo, «apresentar o interlocutor válido para negociações, tal como o Governo de Angola pediu, do futuro estatuto de Cabinda», no entanto, adianta que «os combates não podem cessar, por não ainda não decidimos nenhum cessar-fogo com Angola», e, sublinha, «se os combates ainda não cessaram é porque o Governo angolano ainda não proclamou o fim da guerra, muito pelo contrário, cada vez se organiza mais para nos atacar».

    «Angola não pense que a fusão dos dois movimentos signifique uma intensificação a guerra. Nós sempre estivemos a favor de um processo pacífico para a solução do conflito em Cabinda. Penso que agora o interlocutor válido que Angola sempre pensou não existir está constituído neste momento, e peço ao Governo Angola para por a mão na consciência e pensar nos prejuízos materiais e humanos que a guerra em Cabinda já provocou para ambos os lados, daí que devem colaborar connosco numa solução pacifica», disse ainda o dirigente.

    A divisão no seio da resistência cabinda tem sido um dos argumentos esgrimidos pela comunidade internacional para justificar o seu desinteresse e silêncio pela questão. «Todo o mundo nos olhou divididos, mas neste momento a comunidade internacional já está informada da nova realidade da FLEC, de ser uma único movimento», quis deixar claro Bento Bembe, esperançado de que «é desta vez que vamos ver a boa vontade dos países que sempre afirmaram não intervir na questão de Cabinda porque os movimentos estavam divididos. Agora como essa divisão já não existe mais vamos agora a diligencias junto desses países para que eles manifestem uma posição sobre Cabinda».

    Para Bento Bembe, a implicação de Portugal na busca de uma solução para a questão de Cabinda é indispensável, «porque nós temos uma longa história com Portugal». O dirigente relembrou que Cabinda «foi um protectorado de Portugal e foi Portugal que deixou Cabinda nesta situação miserável, mas Portugal é também a grande testemunha da verdade sobre Cabinda e deve tomar as suas responsabilidades. Não vamos descansar de interpelar Portugal para que reconheça o seu erro cometido durante a descolonização».

    Para o secretario-geral da FLEC, «o problema é que Portugal anda preso ao bolso económico de Angola». «Portugal é refém económico de Angola, mas é bom que fique claro, no dia em que os cabindas se tornarem soberanos os interesses económicos de todos os países não serão postos em questão e até mesmo poderão vir a ser fortalecidos», garantiu.

    Bento Bembe revelou ainda que com a FLEC fundida surge uma equipa reforçada e «mais forte, dado que no ponto de vista da nossas experiências conjuntas, a todos os níveis das nossas estruturas, somos agora muitos a partilhar diversas experiências e conhecimentos, assim estamos mais aptos para podermos responder a todas as formas e em todas as frentes que Angola se apresentar».

    Por fim, o responsável ressaltou os pontos comuns existentes entre cabindas e angolanos, como via para o diálogo. «Tanto Angola como Cabinda sofremos com o mesmo passado colonial. Somos maioritariamente católicos e ambos lusófonos». Citando o padre Jorge Casimiro Congo, quando este afirmou que em Cabinda «o sofrimento fala português», o secretario-geral da FLEC acrescentou que o dialogo entre o povo de Cabinda e o angolano «também fala português».

    (c) Ibinda.com

    15 de setembro de 2004

    Dois exemplos de Simonetta.

    À consideração superior. Dois exemplos que, a corresponderem à verdade...

    Arquive-se.


    «São muitos os exemplos graves e que mostram uma completa incapacidade da actual Presidente, Dra. Simonetta Luz Afonso, para dar resposta essa política. Ora atente-se nos seguintes casos:

    «1. Não foi renovado o protocolo, celebrado em 2000, entre o Instituto Camões e o Museu Nacional Histórico do Rio de Janeiro, pelo qual era mantido nas instalações desse importante Museu um Centro de Referência e a partir deste divulgada a nossa Língua comum e Cultura.

    «Porquê? Vá-se lá saber! Parece que a actual presidência considerou esta Instituição antiquada e sem importância. Igual opinião não foi partilhada pelo actual Governo que prestigiou com a sua presença ao mais alto nível - Primeiro Ministro, Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação Portuguesa, Ministra da Cultura e o Ministro dos Assuntos Parlamentares e outros membros do Governo - estiveram presentes na recente inauguração da exposição sobre as "Artes Tradicionais Portuguesas". Noticiado, em toda a imprensa, o evento não contou com a presença nem física, nem em logótipo do Instituto Camões. Por sinal esta é a Instituição responsável pela Política Cultural Externa de Portugal!!!

    «Afinal parece que a actual Presidência não fez uma adequada avaliação sobre o Protocolo existente. Situação, que começa a tornar-se normal, para a actual Presidente que nunca quer ouvir quem está no ICA há alguns anos e que procura mesmo dispensá-los...

    2. Como foi possível menosprezar um Projecto que tinha como principal objectivo analisar a Presença Portuguesa na Região Platina desde o século XVI até à actualidade? Projecto criado pela anterior Presidente, Maria José Stock, que após uma comissão mista realizada nessa região, apercebeu-se da importância estratégica para Portugal deu início a este Projecto de longa duração que terminaria em 2006 / 2007 com uma Exposição com materiais dos países participantes.

    «Um Projecto que envolveu os diversos países que nomearam, mesmo, Comissários ao mais alto nível. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, não esquecendo Portugal, fizeram-se representar por nomes sonantes da sua vida académica e institucional. Foi debatida a presença portuguesa no sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, meses depois na Colónia do Sacramento e preparava-se um novo debate sobre a nossa presença linguística na Argentina, quando a nova Presidência resolveu adiar "sine die" este Projecto. Cartas enviadas, sem sequer ouvir os Comissários e meses de trabalho e de encontros diplomáticos por água abaixo...

    «Será assim que Portugal consegue manter a sua posição estratégica no Brasil e nos restantes países do Mercosul?

    M.»

    Casa da Lusofonia, Santo Deus.

    Para conhecimento de SEXA, qualquer SEXA. Também para Jaime Gama e Jorge Couto.

    Arquive-se.


    «A tal Casa da Lusofonia

    «Onde está a “tal” Casa da Lusofonia!? Tal como um dos leitores destas já célebres, pela sua importância, notas verbais, questiono onde é que está o Projecto da Casa da Lusofonia?

    «Projecto da Presidência de Jorge Couto, continuado com a de Maria José Stock ficou completamente posto de lado durante este mandato (será mesmo que continua?) de Simonetta Luz Afonso. Um Projecto que tinha em vista sobretudo a difusão da Língua e Cultura Portuguesas. Que procurava apoiar os bolseiros, investigadores e outros estrangeiros que encontram, nesta Língua comum a mais de 200 milhões de falantes, o seu objectivo.

    «Assim era o projecto da Casa da Lusofonia. Manter nas suas instalações o Centro Coordenador dos Centros de Língua Portuguesa, até há pouco instalado nas dependências do Campo Grande do ICA e agora desfeito e armazenado no Armazém do Instituto Camões. Centro dotado de computadores, serviço de Internet e de um centro de recursos sobre a Nossa Língua. Centro que, desde a sua inauguração em Junho de 2000, pelo na época Ministro Jaime Gama e outras individualidades, mereceu desde sempre elevados elogios. Por lá passaram muitos estudantes, bolseiros de todas as nacionalidades, mas também, Embaixadores, Membros do Governo Nacionais e Estrangeiros, dirigentes de diversas Instituições e até sua Alteza Real o Príncipe das Astúrias. Todos, apesar de quadrantes culturais e políticos diferentes foram unânimes em enaltecer este Centro e a sua importância.

    «Era ainda objectivo da Casa da Lusofonia dispor nas suas instalações de uma Biblioteca, de uma sala dedicada ao espólio do Professor Jacinto do Prado Coelho (ofertado a esta Instituição por seu filho, durante o mandato de Jorge Couto), de um centro de recursos audiovisuais, de salas para exposições e, ainda, de gabinetes de trabalho para investigadores estrangeiros.

    «E o que é que a “distinta” Dra. Simonetta e a sua assessora / irmã / arquitecta andam a fazer? A criar salas e salas para futuras exposições. Um minúsculo gabinete a que deram o brilhante nome de “Gabinete de Leitura” e onde só cabem quatro leitores! E, naturalmente, gabinetes e gabinetes para os seus assessores...

    «Assim corroboro a pergunta do leitor anterior, onde está a Casa da Lusofonia? Passou a Palácio de exposições? Ou será mais um Museu da especialidade da Dra. Simonetta? Que tal o “Museu da Língua e Cultura Portuguesas” já que estão mortas?
    Aqui fica a sugestão!!!

    MCHB»